"Senhor, fazei-me instrumento de Vossa Paz"
São Francisco de Assis

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Devo florir onde o Senhor me plantar - Santa Clara de Assis















Esta frase de Santa Clara de Assis nos convida a aceitar com serenidade o lugar e a missão que Deus nos confia. 

Florir onde somos plantados é reconhecer que, independentemente das circunstâncias ou do ambiente, somos chamados a crescer e a espalhar bondade e amor.

Frades Franciscanos OFM



Santo do dia

 


O nome Cecília vem de “coeli lilia”, “lírio do céu”, ou de “caecis via”, “caminho dos cegos”, ou de “coelho lya”, “ligada ao céu”.

Cecília, virgem notável, de nobre família romana, educada desde o berço na fé em Cristo, sempre levava no peito o evangelho de Cristo e dia e noite, incessantemente, conversava com Deus, rezava e pedia ao Senhor que lhe conservasse a virgindade. Os pais, acreditando que ela mudaria de ideia, acertaram seu casamento com Valeriano, também da nobreza romana. Ao receber a triste notícia, Cecília rezou pedindo proteção do seu anjo da guarda, de Maria e de Deus, para não romper com o voto.

Após as núpcias, Cecília contou ao marido que era cristã e do seu compromisso de castidade. Disse, ainda, que para isso estava sob a guarda de um anjo. Valeriano ficou comovido com a sinceridade da esposa e prometeu também proteger sua pureza. Mas para isso queria ver tal anjo. Ela o aconselhou a visitar o papa Urbano, que, devido à perseguição, estava refugiado nas catacumbas. O jovem esposo foi acompanhado de seu irmão Tibúrcio, ficou sabendo que antes era preciso acreditar na Palavra. Os dois ouviram a longa pregação e, no final, converteram-se e foram batizados. Valeriano cumpriu a promessa. Depois, um dia, ao chegar em casa, viu Cecília rezando e, ao seu lado, o anjo da guarda.

Entretanto a denúncia de que Cecília era cristã e da conversão do marido e do cunhado chegou às autoridades romanas. Os três foram presos, ela em sua casa, os dois, quando ajudavam a sepultar os corpos dos mártires nas catacumbas. Julgados, recusaram-se a renegar a fé e foram decapitados. Primeiro, Valeriano e Turíbio, por último, Cecília.

O prefeito de Roma falou com ela em consideração às famílias ilustres a que pertenciam, e exigiu que abandonassem a religião, sob pena de morte. Como Cecília se negou, foi colocada no próprio balneário do seu palacete, para morrer asfixiada pelos vapores. Mas saiu ilesa. Então foi tentada a decapitação. O carrasco a golpeou três vezes e, mesmo assim, sua cabeça permaneceu ligada ao corpo. Mortalmente ferida, ficou no chão três dias, durante os quais animou os cristãos que foram vê-la a não renegarem a fé. Os soldados pagãos que presenciaram tudo se converteram.

O seu corpo foi enterrado nas catacumbas romanas. Mais tarde, devido às sucessivas invasões ocorridas em Roma, as relíquias de vários mártires sepultadas lá foram trasladadas para inúmeras igrejas. As suas, entretanto, permaneceram perdidas naquelas ruínas por muitos séculos. Mas no terreno do seu antigo palácio foi construída a igreja de Santa Cecília, onde era celebrada a sua memória no dia 22 de novembro já no século VI.

Entre os anos 817 e 824, o papa Pascoal I teve uma visão de santa Cecília e o seu caixão foi encontrado e aberto. E constatou-se, então, que seu corpo permanecera intacto. Depois, foi fechado e colocado numa urna de mármore sob o altar daquela igreja dedicada a ela. Outros séculos se passaram. Em 1559, o cardeal Sfondrati ordenou nova abertura do esquife e viu-se que o corpo permanecia da mesma forma.

A devoção a sua santidade avançou pelos séculos sempre acompanhada de incontáveis milagres. Santa Cecília é uma das mais veneradas pelos fiéis cristãos, do Ocidente e do Oriente, na sua tradicional festa do dia 22 de novembro. O seu nome vem citado no cânon da missa e desde o século XV é celebrada como padroeira da música e do canto sacro.

A Igreja também celebra hoje a memória dos santos: Áfia e Pragmácio.



quarta-feira, 20 de novembro de 2024

800 ANOS DO CÂNTICO DAS CRIATURAS - NOVICIADO 2024

 



Cântico das Criaturas - 800 Anos de Louvor e Devoção Neste vídeo especial, os noviços do Noviciado Santa Maria dos Anjos da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus interpretam, em voz e violão, o Cântico das Criaturas – a obra-prima de São Francisco de Assis, composta há 800 anos.
Esta oração em forma de canto celebra a beleza da criação e o amor de Deus por todas as criaturas, ecoando a simplicidade, a humildade e o espírito franciscano. Que essa interpretação preencha sua alma com paz e gratidão.
Se gostou, curta e compartilhe para que essa mensagem de louvor alcance mais corações! 🙏🌍✨



quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Hino a São Francisco

 


Hino a São Francisco de Assis
Cantado por Frei Marcelo Gonçalves, O.F.M. e Frei Carlos Antônio, O.F.M.
Música e Letra originais em italiano: Vincenzo Laganà Tradução e Adaptação para o Português: Frei Marcelo Gonçalves, O.F.M. e Frei Carlos Antônio, O.F.M. Na Ordem dos Frades Menores São Francisco é honrado como Pai, pois através do seu cuidado e intercessão de Pai podemos chegar a um caminho de perfeitíssima imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
São Francisco é considerado Alter Christus, expressão latina que significa outro cristo, pois tamanha foi a sua conformação a cristo que recebeu seus estigmas em sua própria carne, unindo-se fortemente às dores de sua paixão e seu zelo pela salvação das almas.
Ele também é chamado de Pai Seráfico, pois abrasou-se de tal forma do amor de Deus que se tornou um serafim, que arde de amor contemplando a face de Deus.




sábado, 9 de novembro de 2024

VIVER COM INTENSIDADE -Frei Jaime Bettega (Perdão e perdoar)


Bom Dia! O sábado chegou... 

Uma saudação especial, pois o sábado é sempre aguardado com alegria... A vida precisa de intervalos... Sejamos agradecidos pela graça de mais um dia, para viver e conviver... 

Feliz dia! “Ainda não pediram desculpas e, talvez, nunca peçam, mas em seu coração você já perdoou. Isso é ganhar a guerra sem precisar lutar.”(@passsarinhos_no_telhado). 

Escutar as pessoas faz parte do meu cotidiano. Tenho consciência de que nem sempre consigo ouvir todos os que manifestam desejo de dialogar, pois o tempo é limitado. 

Não perco de vista essa máxima: o ideal humano é viver e conviver harmoniosamente, agindo com excelência em todas as situações. Porém, entre o ideal e a realidade pode existir um verdadeiro abismo. A convivência anda difícil em muitos ambientes. A tolerância tem faltado facilmente e, consequentemente, surge um aumento de afastamento e de desentendimento. 

Aceitar que o outro seja diferente não é tarefa fácil, mas é possível. Muitas pessoas preferem criar atritos, mas não aceitam as diferenças na convivência. Podemos até não concordar com a postura do outro, mas não podemos dispensar o respeito. 

Por mais equipados que possamos estar, as distâncias continuam existindo. É mais fácil presenciar a construção de muros, ao invés de edificar pontes. 

Talvez, um dia, as pessoas consigam pedir desculpas pelas suas falhas e atritos na convivência. Para reconhecer as limitações é necessário vivenciar a humildade. Quem é humilde pede perdão e perdoa. 

O orgulhoso tem ‘consciência’ de que nunca erra, por isso não precisa pedir perdão. A capacidade de perdoar, sem que o outro tenha pedido perdão, demostra a grandiosidade da vida e o cuidado como são tratadas as relações humanas. 

Somente quem vive o amor não cria resistências na hora de perdoar. Não perdoar é tornar a vida pesada e sem brilho, é desfigurar a existência e manchar o futuro. 

Perdoar no silêncio do coração é algo grandioso e extraordinário, um ganho infinito e transformador. 

Não tem sido difícil encontrar pessoas pesadas e infelizes, justamente por não acessarem o perdão. Perdoar é ganhar a guerra sem precisar lutar, é desfrutar da paz e da alegria. 

Tenho me exercitado na tarefa de relativizar o que não soma e não agrega. Posso afirmar que isso tem gerado muitos ganhos afetivos e efetivos. O que importa é não sobrecarregar o coração, pois ele merece pulsar com intensidade e com significado. 

Viver é muito bom e perdoar faz um bem enorme. 

Bênção! Paz & Bem! Santa Alegria! Abraço!

Frei Jaime Bettega
Capuchinhos/RS

Frei Jaime Bettega



terça-feira, 5 de novembro de 2024

Cantiga da Perfeita Alegria - Coral Cantos da Ilha (Vídeo e Letra)

 

Cantiga da Perfeita Alegria/ L & M: Frei Luiz Carlos Susin/ 
Arr.: Miguel Philippi/ Coral Cantos da Ilha/ 
Regente: Miguel Philippi/Associação Coral Santíssima Trindade/ Cantores de São Francisco de Assis/ Coral Nossa Senhora da Lapa - Vozes do Mar/Coral Vozes de Jurere

A Perfeita Alegria
(Frei Luiz Carlos Susin) Cai a tarde de inverno impiedoso e Francisco e Leão sob a neve caminham. Vão voltando a Santa Maria, com fome e com frio, ao final de outro dia.
Frei Leão vai na frente ligeiro; frei Francisco o chama e lhe diz: Frei Leão, tome nota se queres saber o que é a Perfeita Alegria.
Se nós tivermos a graça de Deus de pregar o Evangelho e a Cruz, E por obras e exemplos pudermos levar a Jesus, E convertermos os homens à fé, até mesmo os de mau coração, Frei Leão, isto ainda não é a Perfeita Alegria . Imagine, Leão, que Deus nos tenha dado a graça de a todos curar, De fazer ver aos cegos e aos coxos andar, surdos ouvir e mudos falar, E até os demônios fugissem ao comando de nosso olhar, E que os mortos nós ressuscitássemos...
Isto não é a Perfeita Alegria. E se falássemos todas as línguas com o dom de bem comunicar, Transformando os reinos da terra em reinos de Paz, E se soubéssemos toda a ciência, e os segredos da terra e do mar, Frei Leão, isto ainda não é a Perfeita Alegria.
Mas então, Pai Francisco, o que é a Perfeita Alegria?
  • Se chegarmos ao nosso convento e batermos depressa esperando entrar,
E o porteiro, do lado de dentro, ao invés de abrir, põe-se assim a falar: "Quem sois vós, que assim importunos nesta hora nos incomodais?" "Somos nós, teus irmãos, frei Leão e Francisco, que chegam e querem entrar" E frei Leão, se o porteiro disser que é mentira e que não abrirá, Que encontremos um outro lugar em um canto qualquer, E se nós, diante da porta fechada, sob a noite e a neve que cai, Conservamos a Paz, isto é a Perfeita Alegria. Mas se nós insistirmos em prantos que abra e que tenha piedade de nós, Pois com fome e tão necessitados na noite não temos consolo e lugar, E se então o porteiro sair, empunhando um bastão e gritar, E bater em você e em mim muito mais, nos deixando no chão a chorar...
E, frei Leão, se for Deus quem tal faz, que nos deixa na noite e na Cruz, Se entendermos que este abandono imita Jesus,
E se nós diante da porta fechada, sob a noite e a neve que cai, Conservamos a Paz, isto é a Perfeita Alegria.



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A bênção de São Francisco ao seu querido amigo Frei Leão!


 

Benedicat tibi Dominus!
A bênção de São Francisco ao seu querido amigo Frei Leão!
Um dia, no Monte Alverne, Frei Leão se encontrava em um momento de grande aflição e pediu a Frei Francisco uma palavra sua. 
Frei Francisco escreveu esta bênção a próprio punho, Benedicat tibi Dominus, um dos únicos manuscritos de São Francisco. 
Frei Leão o guardou junto a seu hábito, em um pequeno bolso junto ao coração, e só foi encontrado pelos frades no momento de sua morte. 
Este pequeno manuscrito é hoje guardado no Sacro Convento de Assis, como uma verdadeira relíquia do amor fraterno que une os corações no Amor a Cristo.
Em 2015, ano de fundação da GSFA, o antigo coral cantou, pela primeira vez, essa oração na Santa Missa de Ação de Graças das festividades daquele ano. 
Após esse período, todos traziam consigo um imenso carinho por esta canção. Em 2016, foi novamente cantada pelo coral em duas Santas Missas das festividades e novamente na Santa Missa de Ação de Graças. 
Depois desses dois anos, o coral deixou de existir. Mas o carinho por esta canção ainda continua o mesmo. 
Tanto que ela é considerada o Hino da GSFA.
Tradução da bênção:
O Senhor te abençoe e te guarde,
Mostre a ti o seu rosto e tenha misericórdia de ti.
Volte para ti o seu olhar e te dê a paz.
Embaixo do escrito, Frei Leão acrescentou de próprio punho e com bela caligrafia em tinta vermelha: 
“O bem-aventurado Francisco escreveu de próprio punho esta bênção para mim, Frei Leão”.

Que esta bênção continue a trazer conforto espiritual aos nossos corações e a alegria de sermos irmãos no mesmo ideal. Cante, aumente o volume, e cante bem bonito no seu trabalho, na sua universidade e escola, e em latim!
Letra da música:
"Benedicat tibi Dominus et custodiat te,
ostendat faciem suam tibi et misereatur
tui convertat vultum suum ad te et det tibi pacem
Dominus benedicat frater Leo, te Benedicat, benedicat,
benedicat tibi Dominus et custodiat te."


domingo, 3 de novembro de 2024

Bênção dada a Frei Leão (São Francisco)

 


Tradução:
Bênção dada a Frei Leão (São Francisco)

O Senhor te abençoe e te guarde; mostre sua face para ti e tenha misericórdia de ti. 
Volte seu rosto para ti e te dê a paz 
O Senhor te abençoe, Frei Leão
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!!!

Apresento minha amiga
Larissa Barros - Benedicat


sábado, 2 de novembro de 2024

Todos os Finados

 


São Francisco de Assis, segundo o seu biógrafo Tomas de Celano, chegava a convidar para louvor até a própria morte, que todos temem e abominam. Para ele, a morte não era a negação total da vida, mas a passagem para o modo de vida em Deus, novo e definitivo, imortal e pleno.

É assim também que os cristãos veem a morte. Dando sua vida em sacrifício e experimentando a morte, e morte na cruz, Cristo ressuscitou e salvou toda a humanidade. Esse é o mistério pascal de Cristo: morte e ressurreição. Ele nos garantiu que, para quem crê, for batizado e seguir seus ensinamentos, a morte é apenas a porta de entrada para desfrutar com ele a vida eterna no Reino do Pai. Por isso, São Francisco chama a morte de “Irmã Morte” no Cântico do Irmão Sol.

Encontramos a celebração da missa pelos mortos desde o século V. Santo Isidoro de Sevilha, que presidiu dois concílios importantes, confirmou o culto no século VII. Tempos depois, em 998, por determinação do abade santo Odilo, abade de Cluny, todos os conventos beneditinos passaram, oficialmente, a celebrar “o dia de todas as almas”, que já ocorria na comunidade no dia seguinte à festa de Todos os Santos. A partir de então, a data ganhou expressão em todo o mundo cristão.

Em 1311, Roma incluiu, definitivamente, o dia 2 de novembro no calendário litúrgico da Igreja para celebrar “Todos os Finados”. Neste dia, a Igreja autoriza cada sacerdote a celebrar três Missas especiais pelos fiéis defuntos. Essa prática remonta ao ano de 1915, quando, durante a Primeira Guerra Mundial, o Papa Bento XV julgou oportuno estender a toda Igreja esse privilégio de que gozavam a Espanha, Portugal e a América Latina desde o séc. XVIII.

Acompanhe a reflexão do Papa Bento XVI:

Depois de ter celebrado a Solenidade de Todos os Santos, hoje a Igreja convida-nos a comemorar todos os fiéis defuntos, a dirigir o nosso olhar para os numerosos rostos que nos precederam e que concluíram o caminho terreno. A realidade da morte para nós, cristãos, é iluminada pela Ressurreição de Cristo, e para renovar a nossa fé na vida eterna.

Nestes dias vamos ao cemitério para rezar pelas pessoas queridas que nos deixaram; é quase como ir visitá-las para lhes manifestar, mais uma vez, o nosso carinho, para as sentir ainda próximas, recordando também, deste modo, um artigo do Credo: na comunhão dos Santos há um vínculo estreito entre nós que ainda caminhamos nesta terra e muitos irmãos e irmãs que já alcançaram a eternidade.

Desde sempre, o homem preocupou-se pelos seus mortos e procurou conferir-lhes uma espécie de segunda vida, através da atenção, do cuidado e do carinho. De certa maneira, deseja-se conservar a sua experiência de vida; e, paradoxalmente, como eles viveram, o que amaram, o que temeram e o que detestaram, nós descobrimo-lo precisamente a partir dos túmulos, diante dos quais se apinham recordações. Estas são como que um espelho do seu mundo.

Por que é assim? Porque, não obstante a morte seja com frequência um tema quase proibido na nossa sociedade, e haja a tentativa contínua de eliminar da nossa mente até o pensamento da morte, ela diz respeito a cada um de nós, refere-se ao homem de todos os tempos e de todos os espaços. E diante deste mistério todos, também inconscientemente, procuramos algo que nos convide a esperar, um sinal que nos dê consolação, que abra algum horizonte, que ofereça ainda um futuro. Na realidade, o caminho da morte é uma senda da esperança, e percorrer os nossos cemitérios, como também ler as inscrições sobre os túmulos é realizar um caminho marcado pela esperança de eternidade.

Mas perguntamo-nos: por que sentimos medo diante da morte? Por que motivo uma boa parte da humanidade nunca se resignou a acreditar que para além dela não existe simplesmente o nada? Diria que as respostas são múltiplas: temos medo diante da morte, porque temos medo do nada, este partir rumo a algo que não conhecemos, que nos é desconhecido. E então em nós existe um sentido de rejeição, porque não podemos aceitar que tudo quanto de belo e grande foi realizado durante uma existência inteira seja repentinamente eliminado e precipite no abismo no nada. Sobretudo, nós sentimos que o amor evoca e exige a eternidade, e não é possível aceitar que ele seja destruído pela morte num só instante.

Além disso, temos medo diante da morte porque, quando nos encontramos próximos do fim da existência, há a percepção de que existe um juízo sobre as nossas obras, sobre o modo como conduzimos a nossa vida, principalmente sobre aqueles pontos de sombra que, com habilidade, muitas vezes sabemos anular ou tentamos remover da nossa consciência. Diria que precisamente a questão do juízo está com frequência subjacente ao cuidado do homem de todos os tempos pelos finados, a atenção pelas pessoas que foram significativas para ele e que não estão mais ao seu lado no caminho da vida terrena. Num certo sentido, os gestos de carinho e de amor que circundam o defunto constituem um modo para o proteger, na convicção de que eles não permaneçam sem efeito na hora do juízo. Podemos ver isto na maior parte das culturas que caracterizam a história do homem.

Hoje, o mundo tornou-se, pelo menos aparentemente, muito mais racional, ou melhor, difundiu-se a tendência a pensar que cada realidade deve ser enfrentada com os critérios da ciência experimental, e que também à grandiosa interrogação da morte é necessário responder não tanto com a fé, mas a partir de conhecimentos experimentais, empíricos. Porém, não nos damos conta de modo suficiente, de que precisamente desta maneira terminamos por cair em formas de espiritismo, na tentativa de manter algum contato com o mundo para além da morte, quase imaginando que existe uma realidade que, no final, seria uma réplica da vida presente.

A Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos dizem-nos que somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também levar uma vida a partir da esperança. Se nós reduzirmos o homem exclusivamente à sua dimensão horizontal, àquilo que se pode sentir de forma empírica, a própria vida perde o seu profundo sentido. O homem tem necessidade de eternidade, e para ele qualquer outra esperança é demasiado breve, é demasiado limitada. O homem só é explicável, se existir um Amor que supere todo o isolamento, também o da morte, numa totalidade que transcenda até o espaço e o tempo. O homem só é explicável, só encontra o seu sentido mais profundo, se Deus existir. E nós sabemos que Deus saiu do seu afastamento e fez-se próximo, entrou na nossa vida e diz-nos: «Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá» (Jo 11, 25-26).

Pensemos por um momento na cena do Calvário e voltemos a ouvir as palavras que Jesus, do alto da Cruz, dirige ao malfeitor crucificado à sua direita: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). Pensemos nos dois discípulos no caminho de Emaús quando, depois de terem percorrido um trecho da estrada com Jesus Ressuscitado, O reconhecem e, sem hesitar, partem rumo a Jerusalém para anunciar a Ressurreição do Senhor (cf. Lc 24, 13-35). Voltam à mente com clareza renovada as palavras do Mestre: «Jesus continuou dizendo: «Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. 2 Existem muitas moradas na casa de meu Pai. Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para vocês» (Jo 14, 1-2). Deus revelou-se verdadeiramente, tornou-se acessível e amou de tal modo o mundo, «que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16), e no supremo gesto de amor da Cruz, mergulhando no abismo da morte, venceu-a, ressuscitou e abriu também para nós as portas da eternidade. Cristo sustém-nos através da noite da morte que Ele mesmo atravessou; é o Bom Pastor, a cuja guia podemos confiar sem qualquer temor, porque Ele conhece bem o caminho, até através da obscuridade.

Cada domingo, recitando o Credo, nós confirmamos esta verdade. E visitando os cemitérios para rezar com afeto e com amor pelos nossos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem e com força a nossa fé na vida eterna, aliás, a viver com esta grande esperança e testemunhá-la ao mundo: por detrás do presente não existe o nada. E é precisamente a fé na vida eterna que confere ao cristão a coragem de amar ainda mais intensamente esta nossa terra e de trabalhar para lhe construir um futuro, para lhe dar uma esperança verdadeira e segura.




sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Solenidade de Todos os Santos

 

“Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Todos são chamados à santidade: ‘Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito’ “(Mt 5,48)
(Catecismo da Igreja Católica 2013).


Fruto da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência, deram testemunho da sua fidelidade a Cristo.

(1) São João Paulo II, Homilia durante a Missa de encerramento da II Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa (23 de Outubro de 1999), 4: AAS 92 (2000), 179.

Durante o ano, a Igreja celebra ou faz memória de um santo diariamente. Mas no dia 1º de novembro, ela reúne-os todos numa festa comum. Isso porque, mesmo entre os canonizados, muitos santos não têm um dia exclusivo para sua homenagem. Essa celebração começou no século III, na Igreja do Oriente. Já em Roma, a festa de Todos os Santos ocorreu pela primeira no dia 13 de maio de 609, quando o papa Bonifácio IV transformou o Panteão, templo dedicado a todos os deuses pagãos do Olimpo, em uma igreja em honra à Virgem Maria e a Todos os Santos.

Próximo do ano 800, houve a mudança do dia graças à intervenção do abade inglês Alcuíno de York, professor de Carlos Magno. Os pagãos celtas entendiam o dia 1º de novembro como um dia de comemoração que anunciava o início do inverno. Quando eles se convertiam, queriam continuar com a tradição da festa. Assim, a veneração de Todos os Santos, lembrando os cristãos que morreram em estado de graça, foi instituída no dia 1º de novembro.

O papa Gregório IV, em 835, fixou e estendeu para toda a Igreja a comemoração em 1º de novembro. Oficialmente, a mudança do dia da festa de Todos os Santos, de 13 de maio para 1º de novembro, só foi decretada em 1475, pelo do papa Xisto IV.

Mas quem são os santos? Santos são todos os que foram canonizados pela Igreja ao longo dos séculos e também os que não foram e nem sequer a Igreja conhece o nome e que nos precederam em vida na terra perseverando na fé em Cristo. Todos viveram na terra uma vida semelhante à nossa. Batizados, marcados com o sinal da fé, fiéis aos ensinamentos de Cristo, eles precederam-nos na pátria celeste e convidam-nos a irmos ter consigo. Nos primeiros séculos, os cristãos praticavam o culto dos santos, a começar pelos mártires, por isto hoje vivemos esta tradição, na qual nossa Mãe Igreja convida-nos a contemplarmos os nossos “heróis” da fé, esperança e caridade.

Além disso, a solenidade de Todos os Santos enche de sentido a homenagem de Todos os Finados, que ocorre no dia seguinte.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Oração da Armadura do Cristão

Reze com Padre Alex Nogueira a oração da carta de São Paulo aos Efésios 6, 10-18. Esta oração é chamada de "armadura do cristão". Nela pedimos a proteção divina e uma vida de virtudes para enfrentarmos as provações.

ARMADURA DO CRISTÃO Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus. Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos. (Ef 6, 10-18)


Canal YouTube: 

Reze com o Pe. Alex Nogueira a Oração da Armadura do Cristão e se revista do poder do Alto.

Por que rezar a Armadura do Cristão?

A passagem de Efésios 6, 10-18, conhecida como a "Armadura do Cristão", é um símbolo usado por São Paulo para descrever como os cristãos devem se revestir para enfrentar as adversidades e tentações na batalha espiritual em que vivemos. Esta oração é importante porque enfatiza a necessidade de preparação e proteção espiritual contra as forças do Mal, utilizando os símbolos de peças de armadura como o capacete, escudo, couraça, cinto, calçado e espada.

Qual é a origem desta oração?

Este texto foi escrito por São Paulo enquanto ele estava preso, possivelmente em Roma ou em Éfeso. O símbolo da armadura pode ter sido inspirado pela vestimenta dos soldados romanos que São Paulo observava diariamente. Paulo utiliza esta imagem poderosa para ensinar os cristãos sobre a batalha espiritual que enfrentam e sobre a necessidade de dependerem totalmente de Deus e de Sua Palavra para obterem a vitória.

Quando e como devo rezar a Armadura?

Rezar a Armadura do Cristão pode ser especialmente útil em momentos de combate espiritual ou quando se enfrenta um desafio significativo. Esta meditação pode ser diária como parte de uma devoção matinal, preparando o cristão para os desafios do dia, ou em momentos específicos de oração e meditação mais profunda para buscar força e orientação divina.

Quais as graças que posso receber por esta oração?

A passagem promete que, ao vestir a armadura completa de Deus, os cristãos poderão resistir aos dias ruins e sobreviver aos ataques do Maligno. Isso nos revela uma promessa de proteção divina e fortalecimento espiritual para aqueles que se comprometem a viver e lutar de acordo com os princípios estabelecidos por Deus.

Como essa oração pode impactar minha vida espiritual?

Rezar a Armadura do Cristão pode transformar a vida espiritual ao enfatizar o aspecto de constante luta em que estamos e como devemos permanecer alertas, vigiando e orando para não cairmos em tentação (Cf. Mt 26,41). Meditando cada “peça” da armadura, podemos também entender como colaborar com a graça de Deus e nos entregarmos cada vez mais à sua poderosa proteção.

ORAÇÃO

Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder.

Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares.

Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever.

Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz.

Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno.

Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus.

Intensificai as vossas invocações e súplicas.

Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos.

 

https://www.padrealexnogueira.com/



domingo, 27 de outubro de 2024

Por que os franciscanos fazem voto de pobreza?

Atreva-se a seguir esse estilo de vida. 
Atreva-se, siga São Francisco!


39 ANOS DA ASSOCIAÇÃO LAR SÃO FRANCISCO - EP. 64 (27/10/2024)

 



No episódio 64 do Programa A Serviço da Vida, celebramos os 39 anos da Associação Lar São Francisco! Neste especial, fazemos uma viagem pela história da nossa Associação, fundada em 1985, no Dia de São Francisco de Assis, e destacamos as lições e o legado desse grande santo, relembrando passagens marcantes que estão completando 800 anos, como os Estigmas e a Regra Bulada.

Também compartilhamos momentos inesquecíveis do Jantar Show Beneficente com a participação de Lourenço e Lourival, que aconteceu no Celeiro da Vida em Jaci. Foi uma noite especial de música e solidariedade!

Acompanhe essa história de amor e serviço e veja como, juntos, estamos construindo um caminho de fé, cuidado e fraternidade.

Não esqueça de curtir, comentar e se inscrever no canal para mais conteúdos!



sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Santo Antônio de Sant’Ana Galvão


O brasileiro Antônio de Sant’Ana Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo. Seu pai era Antônio Galvão de França, capitão-mor da província e terciário franciscano. Sua mãe era Isabel Leite de Barros, filha de fazendeiros de Pindamonhangaba. O casal teve onze filhos. Eram cristãos caridosos, exemplares e transmitiram esse legado ao filho.

Quando tinha treze anos, Antônio foi enviado para estudar com os jesuítas, ao lado do irmão José, que já estava no Seminário de Belém, na Bahia. Desse modo, na sua alma estava plantada a semente da vocação religiosa. Aos vinte e um anos, Antônio decidiu ingressar na Ordem Franciscana. Recebeu o hábito franciscano no Noviciado de Macacu (RJ), pertencente à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Sua educação no seminário tinha sido tão esmerada que, após um ano, recebeu as ordens sacerdotais, em 1762. Uma deferência especial do papa, porque ele ainda não tinha completado a idade exigida.

No dia 24 de julho de 1762 foi transferido para o Convento São Francisco, no Largo São Francisco, em São Paulo, para continuar os estudos de Filosofia e Teologia. Neste Convento, ele viveu durante 60 anos.

Em 1768, concluídos os estudos de Filosofia e Teologia, foi nomeado confessor, pregador e porteiro do Convento São Francisco e, no ano seguinte, foi nomeado confessor do Recolhimento, onde conhece a irmã Helena Maria do Espírito Santo, figura que exerceu papel muito importante em sua obra posterior.

Irmã Helena era uma mulher de muita oração e de virtudes notáveis. Ela relatava suas visões ao Frei Galvão. Nelas, Jesus lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento para jovens religiosas, o que era uma tarefa difícil devido à proibição imposta pelo marquês de Pombal em sua perseguição à Ordem dos jesuítas. Apesar disso, contrariando essa lei, Frei Galvão, auxiliado pela irmã Helena, fundou, em fevereiro de 1774, o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência.

No ano seguinte, morreu irmã Helena. E os problemas com a lei de Pombal não tardaram a aparecer. O convento foi fechado, mas Frei Galvão manteve-se firme na decisão, mesmo desafiando a autoridade do marquês. Finalmente, devido à pressão popular, o convento foi reaberto e o Frei ficou livre para continuar sua obra. Os seguintes catorze anos foram dedicados à construção e ampliação do convento e também de sua igreja, inaugurada em 1802. Quase um século depois, essa obra tornar-se-ia um “patrimônio cultural da humanidade”, por decisão da Unesco.

Em 1811, a pedido do bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara, em Sorocaba. Lá permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos da construção da Casa. Nesse meio tempo, ele recebeu diversas nomeações, até a de guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo.

Com a saúde enfraquecida, recebeu autorização especial para residir no Recolhimento da Luz. Durante sua última enfermidade, Frei Galvão foi morar num pequeno quarto, ajudado pelas religiosas que lhe prestavam algum alívio e conforto. Ele faleceu com fama de santidade em 23 de dezembro de 1822. Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo construíra.

Depois, o Recolhimento do Frei Galvão tornou-se o conhecido Mosteiro da Luz, local de constantes peregrinações dos fiéis, que pedem e agradecem graças por sua intercessão. 

Frei Galvão foi beatificado pelo papa João Paulo II em 25 de outubro de 1998, e canonizado em 11 de maio de 2007 pelo papa Bento XVI, em São Paulo, Brasil.


FREI GALVÃO: Santo Antônio de Sant'Ana Galvão/ BIOGRAFIA -O bandeirante de Cristo


Frei Antônio de Sant’Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, Brasil; cidade que na época pertencia à Diocese do Rio de Janeiro.

Com a criação da Diocese de São Paulo, em 1745, Frei Galvão viveu praticamente nesta diocese: 1762-1822. O seu ambiente familiar era profundamente religioso. O pai, Antônio Galvão de França, Capitão-Mor, pertencia às Ordens Terceiras de São Francisco e do Carmo, dedicava-se ao comércio e era conhecido pela sua particular generosidade. A mãe, Izabel Leite de Barros, teve o privilégio de ter onze filhos e morreu com apenas 38 anos com fama de grande caridade, a tal ponto que depois da morte não se encontrou nenhum vestido: tudo fora dado aos pobres.

Antônio viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais gozavam de prestígio social e influência política. O pai, querendo dar uma formação humana e cultural segundo suas possibilidades econômicas, mandou o Servo de Deus com 13 anos para Belém (Bahia) a fim de estudar no Seminário dos Padres Jesuítas, onde já se encontrava seu irmão José.

Ficou neste Colégio de 1752 a 1756 com notáveis progressos no estudo e na prática da vida cristã. Teria entrado na Companhia de Jesus, mas o pai, preocupado com o clima antijesuítico provocado pela atuação do Marquês de Pombal, aconselhou Antônio a entrar na Ordem dos Frades Menores Descalços da reforma de São Pedro de Alcântara.

Estes tinham um Convento em Taubaté, não muito longe de Guaratinguetá. Aos 21 anos, no dia 15 de abril de 1760, Antônio ingressou no noviciado do Convento de São Boaventura, na Vila de Macacu, no Rio de Janeiro.

Durante este período distinguiu-se pela piedade e pelas práticas das virtudes, tanto que no “Livro dos Religiosos Brasileiros” encontramos grande elogio a seu respeito.

Aos 16 de abril de 1761 fez a profissão solene e o juramento, segundo o uso dos Franciscanos, de se empenhar na defesa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, doutrina ainda controvertida, mas aceita e defendida pela Ordem Franciscana.

Um ano depois da profissão religiosa, Frei Antônio foi admitido à ordenação sacerdotal aos 11 de julho de 1762. Os Superiores permitiram a sagrada ordenação porque julgaram suficientes os estudos teológicos feitos anteriormente.

Este privilégio foi também um sinal evidente da confiança que os Superiores nutriam pelo jovem clérigo. Depois de ordenado foi mandado para o Convento de São Francisco em São Paulo, com a finalidade de aperfeiçoar os estudos de filosofia e teologia, como também exercitar-se no apostolado.

Sua maturidade espiritual franciscano-mariana teve expressão máxima na “entrega a Maria” como o seu “filho e escravo perpétuo”, entrega assinada com o próprio sangue aos 9 de novembro de 1766.

Terminados os estudos, em 1768, foi nomeado Pregador, Confessor dos leigos e Porteiro do convento cargo este considerado importante, porque pela comunicação com as pessoas permitia fazer um grande apostolado, ouvindo e aconselhando a todos.

Foi confessor estimado e procurado, e quando era chamado ia sempre a pé, mesmo aos lugares distantes. Em 1769-70 foi designado Confessor de um Recolhimento de piedosas mulheres, as “Recolhidas de Santa Teresa” em São Paulo.

Neste Recolhimento encontrou a Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência, observante da vida comum, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento.

Frei Galvão, como confessor, ouviu e estudou tais mensagens e solicitou o parecer de pessoas sábias e esclarecidas, que reconheceram tais visões como válidas. A data oficial da fundação do novo Recolhimento é 2 de fevereiro de 1774.

Irmã Helena queria modelar o Recolhimento segundo a ordem carmelitana, mas o Bispo de São Paulo, franciscano e intrépido defensor da Imaculada, quis que fosse segundo as Concepcionistas, aprovadas pelo Papa Júlio II em 1511.

A fundação passou a se chamar “Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência” e Frei Galvão, o fundador de uma instituição que continua até os nossos dias.

O Recolhimento, no início, era uma Casa que acolhia jovens para viver como religiosas sem o compromisso dos votos. Foi um expediente do momento histórico para subtrair do veto do Marquês de Pombal que não permitia novas fundações e consagrações religiosas. Para toda decisão de certa importância, em âmbito religioso, era necessário o “placet regio”.

Aos 23 de fevereiro de 1775 morreu, quase improvisadamente, Irmã Helena. Frei Galvão encontrou-se como único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência. Entrementes, o novo Capitão-General de São Paulo, homem inflexível e duro (ao contrário do seu predecessor), retirou a permissão e ordenou o fechamento do Recolhimento.

Frei Galvão aceitou com fé e também as Recolhidas obedeceram; mas não deixaram a casa, resistindo até os extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças à pressão do povo e do Bispo, o Recolhimento foi reaberto.

Devido ao grande número de vocações, o Servo de Deus se viu obrigado a aumentar o Recolhimento. Para tanto contribuíram as famílias das Recolhidas, muitas das quais, sendo ricas, podiam dispor dos escravos da família como mão-de-obra.



 

Durante catorze anos (1774-1788) Frei Galvão cuidou da construção do Recolhimento. Outros catorze anos (1788-1802) dedicou à construção da igreja, inaugurada aos 15 de agosto de 1802. A obra, “materialização do gênio e da santidade de Frei Galvão”, em 1988, tornou-se “patrimônio cultural da humanidade” por decisão da Unesco.

Frei Galvão, além da construção e dos encargos especiais dentro e fora da Ordem Franciscana, deu muita atenção e o melhor das suas forças à formação das Recolhidas. Para elas, escreveu um regulamento ou Estatuto, excelente guia de vida interior e de disciplina religiosa.

O Estatuto é o principal escrito, o que melhor manifesta a personalidade do Servo de Deus. O Bispo de São Paulo acrescentou ao Estatuto a permissão para as Recolhidas emitirem os votos enquanto permanecessem na Casa religiosa.

Em 1929, o Recolhimento tornou-se Mosteiro, incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (Concepcionistas). A vida discorria serena e rica de espiritualidade quando sobreveio um episódio doloroso: Frei Galvão foi mandado para o exílio pelo Capitão-General de São Paulo.

Este homem violento, para defender o filho que sofrera uma pequena ofensa, condenou à morte um soldado (Gaetaninho). Como Frei Galvão assumiu a defesa do soldado, foi afastado e obrigado a seguir para o Rio de Janeiro.

A população, porém, se levantou contra a injustiça de tal ordem, que imediatamente foi revogada. Em 1781, o Servo de Deus foi nomeado Mestre do noviciado de Macacu, Rio de Janeiro, pelos qualidades pessoais, profunda vida espiritual e grande zelo apostólico.

O Bispo, porém, que o queria em São Paulo, não lhe fez chegar a carta do Superior Provincial “para não privar seu bispado de tão virtuoso religioso […] que, desde que entrou na religião até o presente dia, tem tido um procedimento exemplaríssimo pela qual razão o aclamam santo”.

Frei Galvão foi nomeado Guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo, em 1798, e reeleito em 1801. A nomeação de Guardião provocou desorientação nas Recolhidas da Luz. Á preocupação das religiosas é necessário acrescentar aquela do “Senado da Câmara de São Paulo” e do Bispo da cidade, que escreveram ao Provincial: “todos os moradores desta Cidade não poderão suportar um só momento a ausência do dito religioso. […] este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo; é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acodem a pedir-lho; é o homem da paz e da caridade”.

Graças a estas cartas, Frei Galvão tornou-se Guardião sem deixar a direção espiritual das Recolhidas e povo de São Paulo. Em 1802, Frei Galvão recebeu o privilégio de Definidor pela solicitação do Provincial ao Núncio Apostólico de Portugal, porque “é um religioso que por seus costumes e por sua exemplaríssima vida serve de honra e de consolação a todos os seus Irmãos, e todo o Povo daquela Capitania de São Paulo, Senado da Câmara e o mesmo Bispo Diocesano o respeitam corpo um varão santo”.

Em 1808, pela estima que gozava dentro de sua Ordem, foi-lhe confiado o cargo de Visitador-Geral e Presidente do Capítulo, mas devido ao seu estado de saúde foi obrigado a renunciar, embora desejasse obedecer prontamente.

Em 1811, a pedido do Bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, no Estado de São Paulo. Ai permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos iniciais da construção da Casa. Voltou para São Paulo e ali viveu mais 10 anos.

Quando as suas forças eram insuficientes para o ir-e-vir diário do Convento de São Francisco ao Recolhimento, obteve dos Superiores (Bispo e Guardião) a autorização para ficar no Recolhimento da Luz.

Durante a última doença, Frei Antônio passou a morar num “quartinho” (espécie de corredor) atrás do Tabernáculo, no fundo da igreja, graças à insistência das religiosas, que desejavam prestar-lhe algum alivio e conforto.

Terminou sua vida terrena aos 23 de dezembro de 1822, pelas 10 horas da manhã, confortado pelos sacramentos e assistido pelo Padre Guardião, dois confrades e dois sacerdotes diocesanos.

Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na Igreja do Recolhimento, que ele mesmo construíra. O seu túmulo sempre foi, e continua sendo até os nossos dias, lugar de peregrinação constante dos fiéis, que pedem e agradecem graças por intercessão do “homem da paz e da caridade” e fundador do Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, cujo carisma é a “laus perennis”, ou seja, adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, vivida em grande pobreza e continua penitência com alegre simplicidade.

Escreveu Lúcio Cristiano em 1954: “Entre os heróis que plasmaram o destino de São Paulo, merece lugar de destaque a inconfundível figura de Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, o apóstolo de São Paulo entre os séculos XVIll e XIX”, cuja lembrança continua viva no coração do povo paulista.

O Processo de Beatificação e Canonização iniciado em 1938 foi reaberto solenemente em 1986 e concluído em 1991. Aos 8 de abril de 1997 foi promulgado pelo Papa João Paulo II o Decreto das Virtudes Heroicas e aos 6 de abril de 1998, o Decreto sobre o Milagre. 

Frei Galvão foi declarado bem-aventurado no dia 25 de outubro de 1998.

Ir. Célia B. Cadorin, C.I.I.C